segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Inhotim - Janet Cardiff


Dentre as inúmeras exposições no Inhotim, escolhi a "Forty Part Motet", da artista canadense Janet Cardiff, como objeto de pesquisa para a nova atividade solicitada. Famosa por suas obras áudio-visuais que, desde 1995, têm lhe proporcionado grande reconhecimento mundial, ela incita o visitante a questionar-se sobre o que é ou não realidade. Com seus arranjos musicais entrelaçados com ruídos do dia-a-dia, confunde a mente daquele que ouve suas gravações, transportando-o para uma "realidade paralela" onde o mesmo vê sua atenção presa, como se não pudesse parar de ouvir aquilo. Totalmente envolvente!
Em "Forty Part Motet", Cardiff conta com as vozes do coral da Catedral de Salisbury, Inglaterra, para reproduzir o complexo moteto (composição polifônica medieval) de Thomas Tallis. Desta forma, ela, brilhantemente, personifica cada caixa de som de sua instalação, para que cada uma corresponda a uma voz diferente. Até mesmo a solução visual dada aos alto-falantes remete a esta aproximação do visitante à catedral: o uso de pedestais que suspendem as caixas à altura média de uma pessoa, assemelhando-se a um corpo e a uma cabeça.
Na minha opnião, o mais impressionante é a capacidade de uma obra que se desprende das amarras visuais, concentrando-se fortemente na acústica e reprodução sonora, ser tão "completa" a ponto de fazer o vistante esquecer de tudo aquilo que passava em sua mente. Ao entrar no ambiente, senti o som abraçar-me por todos os lados, e as vozes "de bastidores" que antecediam a composição principal fizeram-me acreditar plenamente que estava prestes a deparar-me com uma sala cheia de outros visitantes, o que me chocou mais ainda, pois a mesma estava vazia! A capacidade de Janet Cardiff de recriar esta "esfera musical épico-celestial", fez-me pensar que estava na Europa medieval; e a confusão de ruídos, tosses e vozes, que sobrepõe o silêncio abrupto que acompanha o fim da gravação, transportou-me de volta ao século XXI e, além disso, desorientou-me ao provocar a minha desesperada movimentação ao redor das caixas, à procura de um "novo som" (forma de interação).
Uma incrível obra, de uma artista interessantíssima, onde a audição sobrepõe quaisquer outros sentidos humanos. Simplesmente não quis mais sair daquela sala! Uma verdadeira abstração!

OUTRAS OBRAS [com George Bures Miller]

THE MURDER OF CROWS, 2008

http://www.youtube.com/watch?v=Xfa2fvWZ6II

http://www.youtube.com/watch?v=Z9xEpyqLxDw

Mais uma vez, porém em parceria com outro artista, Cardiff explora o universo sonoro em sua obra. Com 98 caixas de som, ela tenta espelhar o surrealismo do "mundo de sonhos", com mais uma "confusão perfeitamente arranjada" feita por sua voz, o barulho de pássaros voando, uma banda marchante e ruídos de uma fábrica. Este ambiente "sinistro" instalado é comparável à situação política atual, caótica; e o posicionamento de um megafone no centro da obra, de onde a voz da autora é projetada, retrata o aprisionamento do ser em meio a seus sonhos apocalípticos.

THE KILLING MACHINE, 2007



Nesta outra obra, a exploração visual é grande, fazendo o uso de diversos elementos como, por exemplo, a cadeira de dentista coberta por pelúcia cor-de-rosa que é a peça central da instalação. Partindo para uma crítica explícita à sociedade, Cardiff e Miller inspiraram-se parcialmente em "In the Penal Colony", de Franz Kafka, e no sistema americano de punições capitais, assim como na situação política atual. Esta é uma obra agressiva e, exatamente por isso, consegue chocar aqueles que a observam, provocando uma reflexão maior sobre os dias atuais e a situação mundial como um todo. É o resultado, mais uma vez, da artista provocando sensações que "prendem" o visitante na obra.
COMENTÁRIOS GERAIS FINAIS
Após analisar estas três obras, entre outras, da canadense, pude concluir que um dos aspectos mais presentes em seu trabalho é o de tentar provocar diferentes sensações nos observadores, transportando-os a uma outra realidade, caótica, mágica e surreal. Além disso, ela ainda, de alguma forma inacreditável, consegue prolongar a "visita" das pessoas em suas instalações, fazendo com que fiquem a deslumbrá-las sem que percerbam o tempo passar. Esta é, definitivamente, uma artista a se observar! Ou ouvir, se assim preferir dizer...

1 Comentários:

Blogger Unknown disse...

O MAXIMO!!!!
www.partidodaarte.blogspot.com

15 de maio de 2010 às 06:39  

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